O Ferry Infernal
Isto passou-se num quente...hum.. quente não, tórrido dia de verão, assim tá melhor, em que fiz uma viagem a Tróia para ver uma obra.
A viagem é sempre uma seca, ter de passar a ponte, ir até Setúbal e apanhar a bodega do ferry boat. Aquilo é uma eternidade, porque acabo sempre por perder o ferry e ficar a secar quase 45min pelo próximo.
Enfim, isto por si só já é mau, agora imaginem 30 graus dentro do carro, parado numa fila, vidros abertos e ter vinte gajos a tentar venderem-me coisas que eu não quero. Pode dar-me um minuto de atenção? Já viu os óculos que eu aqui tenho? Olhe só que categoria!... Desculpe, mas caso não tenha reparado, eu já possuo óculos de sol e por acaso estou a usá-los.. Sim, mas de que marca são? É que os meus são de marca, tenho todas as marcas, experimente esses. Não obrigada, não estou interessada. Mas pegue, pegue nos óculos. Não quero. Mas importa-se de pegar?? Nesta altura, eu não sabendo o que fazer, com vontade de me transformar num homem de dois metros, bigodudo, cheio de músculo e correr com o homem ao biqueiro, agarro na merda dos óculos e fico ali especada a olhar para ele e a repetir, Sim, mas não estou interessada, sim, entendo, obrigada, mas não quero, quando me ocorre a ideia, que é a mais pura das verdades, eu não tenho dinheiro! Era a verdade! A não ser que o homem aceitasse multibanco, eu não tinha dinheiro. Após ouvir esmagadora verdade, o gordo tirou-me os óculos da mão e bazou dali para fora a praguejar. Se eu soubesse que era tão simples...
Mas logo outro veio tomar o lugar do gordo sabujo, desta vez impingiram-me uma câmara de filmar digital. Eu já só queria cortar os pulsos... Mas fui salva pelo ferry boat! (Belo nome...)
Lá fui para o barco, eu e a minha colega, que tem muito mais sangue frio que eu. Não é não. E lá saímos do carro e fomos torrar para os bancos do andar de cima.
Iniciamos finalmente a viagem.
Quando já íamos mais ou menos a meio, ouve-se uma voz, PARE O BARCO! PARE! HOMEM AO MAR! Podem calcular o alvoroço que isto foi, num repente, toda a tripulação e passageiros do barco acorreram à popa do dito. Nem sei como o barco não se virou. Olhando para o horizonte, via-se realmente um ponto a boiar no mar, uns diziam que era lixo, outros diziam que era um golfinho, outros atiravam ao ar a ver se pegava, Tá morto? Outros diziam, Filma, filma para mandarmos para a TVI. Eu, como míope que sou, fiquei a olhar e a tentar perceber o que era.
De qualquer das formas, caso fosse um pedaço de lixo, ou um falecido golfinho, lá voltámos para trás. O barco estava ao rubro, as pessoas empurravam-se, riam em voz alta e, como não podia deixar de ser, juntou-se logo uma equipa de salvamento, constituída por passageiros e tripulação. Um homem gritava em plenos pulmões instruções para outro que estava a conduzir o barco, numa cabina fechada, a cinco metros de altura, se calhar o senhor sabia ler os lábios, mas nesse caso, o outro escusava de gritar.
A dada altura percebeu-se que se tratava realmente de um homem que estava a boiar. Como estavam todos engalfinhados na parte de trás do barco, o homem que o ia a conduzir começou a buzinar, e a fazer sinais na esperança de dissolver aquela muralha humana, para que ele pudesse ver até onde podia avançar, sem pôr em causa a integridade física do homem que boiava. Mas as pessoas não saíam. Estava tudo em pulgas para ver o salvamento.
Já no andar de cima, visionava-se o seguinte espectáculo, Ai queres ver que o homem vai passar com o barco por cima do desgraçado? ( devo confessar que eu própria por momentos também pensei isso, todos sabem que uma desgraça nunca vem só.. ) Mas, para desgosto de todos os espectadores, o homem do leme, ao que parece tinha dois dedos de testa e achou melhor não avançar mais com a traineira.
Chegou então a hora do salvamento! Um dos passageiros, despiu a camisa e lançou-se ao mar, que para vossa informação, apresentava uma água muito, muito limpinha.... Levou com ele uma bóia, deu a bóia ao falecido golfinho, pedaço de lixo, dejecto humano, etc, para que este fosse rebocado pelas pessoas do barco.
Afinal, a incógnita que boiava no mar, era um conhecido dos tripulantes, que simplesmente tinha bebido uns copos a mais e caiu borda fora. Por isso, devido ao avançado estado alcoólico em que se encontrava, não conseguiu agarrar-se à bóia e o rapaz teve de o ajudar, permanecendo uns minutos a mais naquela pura água, para felicidade das inúmeras bactérias e micróbios. Quando, finalmente o conseguiram pôr a salvo no barco é que apareceu a polícia marítima.
Eu já desesperava e olhava para o relógio, Então mas esta palhaçada não acaba? Eu tenho uma reunião naquele lado e já estou atrasada, vamos lá despachar isto. Eis quando um dos tripulantes pergunta, Ó amigo, você quer ir para onde? Tróia ou Setúbal? E aquela alma bêbada responde, Setúbal, HIC!
E vocês sabem o que é que aconteceu? Isto é inacreditável, voltámos tudo para trás, para deixar a merda do homem em Setúbal, tendo depois de tornar a voltar para Tróia...
Não vale a pena. Não tenho palavras para expressar o que senti naquele momento.
O calor abrasador, o atraso descomunal.. só coisas boas e agradáveis. Recomendo vivamente a qualquer um.
*suzette*
1 Comments:
LINDO LINDO LINDO!!!!!!!!! grande suzette regressa com as suas histórias incríveis e mirabolantes!
É fantástico, esta matrioska nao pode sair a rua que acontece sempre alguma coisa do mundo dos sonhos.
pra comecar, nao percebo pq deixam andar gajos bebados no ferry... pelo menos amarrem-nos aos bancos ou atem-lhes umas boias ou qq coisa do genero. enfim...
grande descrição! mto boa mesmo... é impressionante a forma como te consegues lembrar desses pormenorzinhos q fazem duma aventura um conto do fantastico.
mto bom
grande leitura para animar a minha longa noite qdo ja devia estar a dormir. amanha trabalhase.. e ainda tenho tanta coisa pa fazer... :P
BAAAAHHHH
beijos
PS: tou a ver q foi um dia bem passado... mto sol.. a ver o mar... possibilidade de fazer compras e ainda de salvar uma vida......... so te falta o escrever um livro (mas tens um blog), plantar uma arvore (sem ser cannabis, daquelas que dao oxigenio :P), e ter um filho (nao, o gato nao conta, embora tb dê muitas preocupacoes e trabalho, nao conta).
visto assim ate parece mesmo um bom dia :D - ve as coisas pelo lado positivo :P agahahahahah
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