Eu não aguento esta pressão!

quarta-feira, julho 05, 2006

Feira no Hospital

Isto dos hospitais tem muito que se lhe diga..
A mim só me acontecem destas.
Mas comecemos pelo início. Desde há uns tempos para cá que me apareceu um pequeno quisto sebáceo (julgo eu) no canto interior do olho.
Não é que eu seja maníaca da estética, mas começa a tornar-se um bocado chato quando metade das pessoas ficam a olhar atentamente para o meu olho até que acabam por dizer, Olha, tens uma coisa no olho, que é como quem diz, Olha, ó badalhoca tens uma ramelona enorme no olho, credo, que nojo! E eu, na minha ínfima paciência respondo, Não, estais enganados caros amigos, isto não é uma ramela ( e ao mesmo tempo que digo isto, passo com o dedo na coisa que se encontra no canto do olho, que é para provar às almas mais incrédulas que não se trata de uma ramela ), isto é um quistozito.
Bom, tantas foram as vezes que me confundiram com alguém que não lava a fuça que chegou o momento de tomar uma decisão. Fui ao médico.
O doutor, olhou despreocupado para aquilo e decidiu retirar o quisto através de uma pequena cirurgia, atenção, com anestesia e tudo, ó meus amigos!
Assim, no dia marcado e à hora marcada, lá estava eu, mas como cheguei um pouco antes, fui com a minha rica mãezinha, às instalações sanitárias, pois ela estava aflita. Lá demos com a casa de banho daquele piso hospitalar ( atenção, neste momento, julgo ser de importância crucial para a história referir que o hospital que fui, é um hospital privado ), por azar estava em limpezas. Uma senhora estava à porta com uma esfregona e com um placard de plástico a amarelo que dizia, Em Limpezas. Decidi então, perguntar à senhora onde era a casa de banho mais próxima, para tal dirijo-me na sua direcção, nisto, ela deve pensar, Deves pensar deves, ó cabra, Isto tá em limpezas, aqui não entras, nem que te borres toda! Coloca-se em posição defensiva, arma uma barricada à porta, um dos braços alcança a ombreira da porta e a outra mão segura a esfregona em riste apontada na minha direcção. A princípio hesitei, devo confessar que fiquei com medo, a senhora guerrilheira devia mesmo pensar que eu lhe ia tomar de assalto a sua preciosa instalação, mas mostrei bandeira branca, Olhe, queira desculpar, eu sei que esta está em limpezas, podia dizer-me onde fica a casa de banho mais próxima? Desconfiada e sem desarmar defesas responde, Primeiro piso.
Lá vamos nós rumo à casa de banho seguinte.
Eis que, meus amigos, surge a cena mais inacreditável que possam imaginar! Abro a porta e deparo-me com a seguinte cena, numa casa de banho minúscula, com apenas dois compartimentos, estavam duas senhoras em amena cavaqueira. Tinham armado ali em plena casa de banho de um hospital privado, uma verdadeira tenda de ciganos. Uma variedade enorme de roupa repousava no chão “imaculado”. A maior parte delas estava dentro de plásticos, tal e qual como na feira. Ao verem-nos entrar tentaram o óbvio, ocultar tudo. Pareciam que estavam a negociar droga, tal foi a velocidade com que tentaram limpar o produto que estava espalhado pelo chão. A minha mãe, já bastante aflita, entrou para o único compartimento que estava vago. Eu fiquei à espera que o outro vagasse, entretanto pus-me a admirar a mercadoria, havia tops, calções de banho, t-shirts, vestidos, saias, pólos, eu sei lá! Nisto oiço uma voz vinda do outro compartimento, Este está bom mãe, melhor que o outro! E vocês pensam, Qual é o mal? Ora bem, o mal é que a voz pertencia definitivamente ao sexo masculino, a não ser que fosse uma mulher que fizesse uma dieta rigorosa à base de amêndoa amarga e bagaço...
Sai-me de lá segundos depois um rapaz de quinze anos ( mais coisa, menos coisa..)! Quinze anos senhoras e senhores! Como é que é possível estas senhoras montarem um pronto a vestir na casa de banho feminina de um hospital privado? Como?
O rapaz sai de lá com um calção de banho a dizer, Levo este! Olha para mim, como se nada fosse, afinal ele é cliente e estava na vez dele, ele até deve achar estranho que eu queira usar o seu provador de roupas para necessidades fisiológicas... Passa por mim com um ar satisfeito, como quem diz, Que bela compra que eu fiz, fiquei cliente desta loja, cheira um bocado a mijo e a pacharreca mal lavada mas o preço compensa....
A mãe do rapaz sai a seguir e a gerente fechou a loja, afinal estávamos na hora de almoço. Uma pessoa tem de ganhar a vida...
Bom, o resto da história não tem piada nenhuma, fui operada, tiraram-me o quisto e levei um ponto, entretanto já o tirei e tá tudo bem.
O que interessa é que a vida de hospital é tudo menos aborrecida. Para a semana vou lá outra vez, talvez estejam em épocas de saldo e eu até queria um biquini novo. Quem sabe?


*suzette*